A arte pode ser uma arma para a reabilitação da Baixa do Porto

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O prédio da Rua de António Cândido vai acolher estudantes Manuel roberto

Convidados pela Culturgest, os vienenses do WochenKlausur têm um projecto-piloto para recuperar habitações do centro da cidade

Quando, em Maio, convidados pela Culturgest para desenvolverem um projecto na cidade, chegaram ao Porto, os austríacos Martina Reuter e Wolfgang Zinggl tinham pesquisado alguma coisa na Internet e traziam algumas ideias sobre o trabalho que podiam levar a cabo. Acabaram por ser surpreendidos pela arquitectura de uma cidade que, porém, se revelava extraordinariamente arruinada, ao abandono. E tomaram a decisão: tentariam fazer alguma coisa que pudesse ajudar a recuperar a enorme quantidade de bonitos prédios vazios do centro da cidade.

O projecto a que o colectivo artístico WochenKlausur meteu ombros tem estado a ser trabalhado desde então e deverá ser publicamente apresentado no próximo sábado, durante uma conferência/debate que terá lugar no espaço da Culturgest da Avenida dos Aliados. Propõe-se encontrar uma forma de recuperar edifícios recorrendo à comunidade universitária da cidade: os estudantes fazem as obras de reabilitação dos imóveis e conquistam, desse modo, o direito de ficarem a residir nas casas recuperadas durante alguns anos, devolvendo-as depois aos proprietários em bom estado de conservação.

Para já, os WochenKlausur seleccionaram um grupo de nove estudantes com capacidades específicas e conseguiram suscitar, pelo menos, a atenção da Câmara do Porto para o projecto. A autarquia indicou um imóvel municipal da Rua de António Cândido, os austríacos já viram o prédio por fora e devem hoje poder ver o interior - o acesso está tapado por blocos de cimento -, para decidirem os passos seguintes. Ou a casa serve para o efeito pretendido, ou será preciso procurar outra.

Depois, será ainda preciso mobilizar apoios de empresas que possam facultar os materiais necessários à intervenção e acertar com a autarquia os detalhes do contrato a estabelecer. "Mas queremos ter tudo definido até ao final do mês", disse ao PÚBLICO Wolfgang Zinggl, segundo o qual, dos 29 projectos já levados a cabo pelo colectivo (ver caixa), só dois não foram concretizados.

"Acreditamos que a arte pode ser usada para resolver problemas concretos. No Porto, notámos que a deterioração dos edifícios é um problema importante e é uma pena. A desertificação dos centros urbanos existe em muitos sítios, mas é raro suceder em cidades tão interessantes do ponto de vista arquitectónico", explica Zinggl. "Quisemos, por isso, tentar encontrar um modelo que ajude a resolver este problema", acrescentou.

Os austríacos acreditam que este projecto pode criar raízes e ser, depois, testado e alargado a outras pessoas, que não sejam estudantes mas estejam disponíveis para recuperar casas, municipais ou privadas, recebendo, em troca, o direito de lá ficarem a morar durante alguns anos. "O modelo até pode ser exportado para outras cidades", diz Wolfgang Zinggl, que considera "uma pena" o estado em que alguns edifícios se encontram. "Faz muita impressão."

Para além de conseguirem uma casa para executar o projecto e de reunirem patrocínios para a intervenção, os WochenKlausur propõem-se ainda providenciar apoio de engenharia e arquitectura, caso venha a ser necessário. "Ainda não vimos a casa que nos foi indicada por dentro. Pode estar demasiado degradada. Os estudantes podem não ser capazes", explicou Zinggl.

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