Cinco mil famílias estão em lista de espera para receber apoio alimentar de instituições

Estudo do Banco Alimentar estima que sejam 66.500 as famílias que beneficiam de apoio alimentar. Metade vive com menos de 250 euros por mês

Quase cinco mil famílias estão em lista de espera para receber apoio alimentar. O dado está contido num inquérito que o Banco Alimentar Contra a Fome divulgou ontem, no Porto. Segundo o estudo, 21,3 por cento das instituições que fornecem apoio, alimentar ou em espécie, têm listas de espera.

Entre os que recorrem às instituições de solidariedade social, metade vive com menos de 250 euros por mês, segundo o inquérito que abrangeu cinco mil utentes do Banco Alimentar. "Não estamos a falar de apenas idosos, mas também adultos, muitas vezes com crianças em casa, para quem 250 euros são manifestamente insuficientes", destacou Isabel Jonet, do Banco Alimentar, falando aos jornalistas no final da apresentação do estudo, feita no âmbito da conferência Portugal Solidário promovida pela TSF.

O estudo confirma que entre os que recorrem ao apoio alimentar há uma elevadíssima percentagem de desempregados "que estão a meio da sua vida, mas que provavelmente nunca mais vão ter lugar no mercado de trabalho", como enfatizou Isabel Jonet, para quem, "apesar de Portugal não ter uma tradição de anarquia como a Grécia, é preciso estar muito vigilante para acautelar focos de tensão que se vêem já muito patentes".

Entre os inquiridos no estudo, cerca de 90 por cento têm rendimentos líquidos abaixo do salário mínimo nacional. E entre os que vivem com menos de 250 euros por mês, a maioria possui apenas até à 4.ª classe. É também entre os que têm menores rendimentos que se encontra a maior percentagem dos que disseram que já estiveram um dia inteiro sem comer: 27 por cento do total de inquiridos. Apenas 49 por cento declararam ter sempre comida até ao fim do mês, enquanto um quinto disse não ter comida para o mês inteiro.

O mesmo estudo, feito em parceria com a Universidade Católica e no âmbito do qual foram ouvidos 4691 utentes, entre Junho e Outubro, provenientes de 557 instituições de solidariedade social, revelou que quase 40 por cento dos inquiridos vivem em casa própria e apenas 17 por cento em habitação do tipo social, pelo que não espanta que as maiores despesas sejam com a alimentação e com a casa. Em termos de saúde, 40 por cento dos inquiridos disseram que compram os medicamentos receitados pelo médico apenas quando têm dinheiro e 13 por cento declararam que só compram os mais baratos.

Numa extrapolação dos valores obtidos, os autores do estudo calculam que sejam 66.500 as famílias que dependem do apoio alimentar das instituições, o equivalente a mais de 239 mil pessoas. Quanto ao apoio medicamentoso, este chega a 6620 famílias (15.900 pessoas).

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