Agência Moody"s coloca a dívida portuguesa sob vigilância negativa

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Teixeira dos Santos continua perseguido pelas agências DANIEL ROCHA

Decisão tem a ver com as incertezas sobre a evolução da economia portuguesa, que podem ser aumentadas com a austeridade prevista no Orçamento do Estado

A agência de notação financeira Moody"s colocou ontem o rating da dívida portuguesa em revisão para possível baixa, por causa das incertezas quanto à vitalidade da economia e às perspectivas de crescimento.

Numa nota divulgada ontem, a Moody"s - que cortou recentemente a notação da Irlanda em cinco níveis e que ameaçou baixar o rating da Grécia e de Espanha - coloca a dívida portuguesa sob revisão para possível corte, alertando que poderá chegar a dois níveis.

A decisão da agência de notação financeira prende-se com três factores identificados no documento, de entre os quais as "incertezas quanto à vitalidade da economia portuguesa no longo prazo, que podem ser aumentadas por causa da austeridade orçamental".

Além disso, a Moody"s mostra-se preocupada com as dificuldades de Portugal em aceder ao mercado de capitais a um preço "sustentável" em 2011, prevendo que o país tenha de continuar a pagar um preço elevado para se financiar.

E, por fim, considera que a banca nacional está perante grandes "desafios", que podem "ter um impacto nas contas públicas", refere. "Apesar de, até agora, o sector bancário ainda não ter recorrido à assistência do Governo, qualquer ajuda poderá comprometer as metas orçamentais", conclui.

Nesse sentido, a agência, que tinha fixado o rating de Portugal em A1, pondera cortar "um ou dois níveis", o que poderá baixar a notação da dívida portuguesa para A3.

A última vez que a Moody"s baixou a notação do país foi em meados de Julho deste ano, passando-o de Aa2 para A1 (um corte de dois níveis).

Em reacção à decisão da Moody"s, a economista-chefe do BPI, Cristina Casalinho, desvalorizou a ameaça de descida do rating português, notando que não houve uma subida significativa dos juros da dívida pública nacional. As taxas que são pedidas no mercado manifestaram uma tendência muito ligeira de subida.

Cristina Casalinho defende que "as agência de rating perderam impacto". "O que é positivo é que, apesar do anúncio, não aconteceu nada de material aos spreads pagos pela dívida irlandesa, e hoje [ontem] aconteceu a mesma coisa em Portugal", disse a economista, lembrando que "a Irlanda também teve a queda dos ratings" sem terem sido notadas consequências directas no custo que os investidores exigem para comprar dívida pública.

Apesar da desvalorização do poder das agências de rating, o panorama económico português permanece sombrio: "Se a economia se contrai e as taxas de juro continuam elevadas, significa que vamos ter recessão, o que dificulta a capacidade de pagamento da dívida, que passa a ter uma dinâmica que não é sustentável. Assim, vamos ter uma dinâmica imparável de crescimento da dívida, o que coloca problemas no pagamento a prazo."

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