Sismo matou 75 pessoas e fez de Christchurch um "palco de guerra"

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"Parecia o que vimos em Nova Iorque... no 11 de Setembro", disse uma sobrevivente REUTERS

A Nova Zelândia viveu o seu "dia mais negro" com um tremor de terra de magnitude 6,3. O estado de emergência foi decretado

Podia ter sido a explosão de várias bombas, mas foi um sismo de magnitude 6,3 que transformou o centro de Christchurch, a segunda maior cidade da Nova Zelândia, num "palco de guerra".

Inicialmente, o primeiro-ministro John Key deu conta de 65 mortos. Mas, na noite de ontem, um novo balanço, apresentado pelo presidente da câmara de Christchurch, Bob Parker, e citado pela agência AFP, elevava o número de mortes para 75 e referia 300 desaparecidos.

O primeiro minuto do "dia mais negro da Nova Zelândia", nas palavras do primeiro-ministro John Key, começou ontem às 12h51 (23h51 em Portugal), quando a cidade de 390 mil habitantes foi abalada por um sismo com epicentro a cinco quilómetros de distância e a apenas quatro quilómetros de profundidade, de acordo com o Instituto de Geofísica norte-americano.

O chefe do Governo de Wellington declarou o estado de emergência, referiu a AFP.

Edifícios de vários andares desmoronaram-se como baralhos de cartas, grandes bocados de paredes caíram e esmagaram automóveis, abriram-se fendas no pavimento das ruas, pontes colapsaram e grande parte da cidade ficou sem água, luz e redes de telecomunicações. No coração da cidade - que já foi considerada uma pequena Inglaterra, com os seus edifícios históricos e o rio Avon -, ruiu a torre da catedral de Christchurch, monumento construído entre 1864 e 1904.

Neva Clarke, professora naquela cidade, estava na câmara municipal na altura do sismo. "Foi absolutamente assustador e parecia não ter fim", contou à televisão Sky News. "Havia vidros a partir-se por todo o lado (...). Quando saímos à rua só vimos devastação e pó. Parecia o que vimos em Nova Iorque... no 11 de Setembro."

Dezenas de pessoas saíram dos escritórios pelas janelas, com a ajuda de cordas, e colegas de trabalho transformaram-se em socorristas, retirando outros de edifícios em risco de ruir, levando-os às costas ou nos braços, por cima de cacos de vidro e ao som de buzinas de carros. A cidade "parece um palco de guerra", desabafou John Gurr, um dos habitantes da cidade, à agência Reuters.

"É uma tragédia absoluta para esta cidade, para a Nova Zelândia e para as pessoas que nos são próximas", declarou John Key, em comunicado. Segundo o gabinete do secretário de Estado português das Comunidades, o sismo não terá atingido portugueses, apesar de estarem na região cinco famílias.

À procura de sobreviventes

Segundo a estação de televisão TVNZ, o centro da cidade foi evacuado e fechado ao trânsito, depois de ter sido montado um cordão policial na zona mais afectada. Uma rede de abrigos e de tendas de campanha foi espalhada pela cidade.

Nas ruas cobertas de nuvens cinzentas de pó, o amarelo dos coletes de dezenas de socorristas sobressaía, trepando pelos destroços à procura de sobreviventes. Em Christchurch, até ao anoitecer, tinham sido recuperadas com vida cem pessoas. Outras cem continuavam soterradas em seis locais da cidade, disse o mayor de Christchurch, Bob Parker, ao New Zealand Herald.

As operações de resgate prosseguiram de noite, à chuva e apesar das mais de 60 réplicas registadas desde que tudo começou, num raio de cem quilómetros da catedral de Christchurch. O GeoNet, sistema de monitorização da actividade sísmica na Nova Zelândia, registou magnitudes de 3 a 5.

"As pessoas estão realmente em choque", contou à Sky News Jo Kane, moradora nos arredores da cidade. "Cresci com tremores de terra, mas digo-vos que estou aqui sentada em casa com a expressão de um animal que, na estrada, ficou encandeado por faróis."

Um dos locais que concentrava maior atenção das equipas, que trabalhavam com a ajuda de fortes focos de luz, era o edifício Pyne Gould Guinness, onde se receava estarem soterradas 30 pessoas.

"É difícil especular sobre o número de vítimas mortais porque a situação está a alterar-se constantemente. Mas sabemos que esse número será significativo e que existem muitas pessoas a passar pelo pesadelo de esperar notícias dos seus familiares", comentou Russell Gibson, superintendente da polícia neozelandesa.

Segundo David Coetzee, da protecção civil da Nova Zelândia, citado pela rádio nacional, este sismo terá causado mais estragos que o de 4 de Setembro do ano passado, que foi de magnitude 7,1 e não causou qualquer vítima mortal. Ao contrário deste, o sismo de Setembro aconteceu durante a noite, pelo que quase não circulavam pessoas na rua.

A Nova Zelândia, situada entre as placas tectónicas do Pacífico e indo-australiana, regista em média mais de 14 mil sismos por ano; apenas cerca de 20 ultrapassam a magnitude 5.

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