Crise da dívida vai custar 850 milhões ao Estado em juros

Custos da emissão de dívida portuguesa não param de aumentar, como se viu no leilão de ontem, em que os juros de obrigações a 10 anos superaram os seis por cento

A crise da dívida pública que se abateu sobre os países periféricos da zona euro desde Abril está a custar ao Estado português um agravamento de pelo menos 850 milhões de euros nos juros que terá de suportar durante os próximos dez anos.

Apesar de Portugal ter conseguido encontrar um nível confortável de procura nos mercados internacionais para as suas emissões de dívida, essas concessões de crédito estão a ser feitas a taxas bastante mais elevadas do que as que se registavam antes do início da crise. Enquanto a 15 de Março, as Finanças conseguiram obter um financiamento a 10 anos a uma taxa de 4,171 por cento, ontem, em mais uma emissão de obrigações do tesouro a 10 anos, a taxa conseguida foi de 6,242 por cento, a primeira vez desde a criação do euro em que a marca dos seis por cento é ultrapassada.

Verificando todas as emissões de obrigações e bilhetes de tesouro com prazos entre um e dez anos realizadas durante os últimos cinco meses pelas Finanças é possível verificar que os juros que terão de ser pagos aos investidores ao longo dos próximos anos serão cerca de 850 milhões de euros mais elevados do que aqueles que teriam sido conseguidos, caso não se tivesse verificado nesse período um agravamento das taxas praticadas. Em vez dos cerca de 3250 milhões de euros que se pagariam ao longo de 10 anos, se as taxas se mantivessem aos níveis de Março, a factura ascende afinal aos 4100 milhões de euros.

O custo suportado pelo Estado pode ser ainda mais elevado porque, para além dessas emissões, as Finanças têm vindo a recorrer, face às difíceis condições do mercado, a operações de financiamento de muito curto prazo não tituladas, com taxas de juro que não são divulgadas publicamente.

O leilão contrariou o receio de que a procura poderia ser diminuta, o que agravaria o risco do país. Apesar do resultado, o efeito no mercado secundário foi reduzido, com os juros e a margem ou spread face às obrigações alemãs a manter-se ontem próximo de máximos históricos - ou seja, os investidores continuam à espera de sinais mais claros de controlo da despesa pública para reduzir o nível de risco que está implícito nos juros exigidos.

Ontem, e em face das elevadas taxas de juro e para dar um sinal ao mercado de que o país está confortável, o IGCP, instituto que gere a dívida pública, acabou por colocar apenas o montante mínimo previsto, 750 milhões de euros.

Tal como já tinha acontecido nas recentes emissões de Espanha, da Irlanda e da Grécia, a procura não travou a subida dos juros. A emissão de 300 milhões de OT a 10 anos foi colocada a uma taxa média de 6,242 por cento, bem acima dos 5,973 por cento de há duas semanas. A emissão de 450 milhões de euros em OT a quatro anos foi colocada com uma taxa média de 4,695 por cento, cerca de um por cento mais que o juro conseguido em Julho, para uma operação com a mesma maturidade. Nesta emissão, a procura foi de 3,5 vezes a procura.

João Vítor Sousa, economista do BPI, explicou ao PÚBLICO que "a elevada rendibilidade oferecida por estas emissões explica o interesse dos investidores institucionais". E lembrou que o risco de Portugal é menor que o de outros países. O nível de juros atingido ontem tornou inevitável uma comparação com a Grécia, uma vez que foi exactamente nesse patamar que se deu o resgate financeiro do país por parte do FMI e da União Europeia.

O secretário de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina, qualificou o nível dos spreads como "factor de preocupação", mas considerou a elevada procura "um sinal inequívoco de confiança". Disse ainda não ver razões para "reacções emotivas em matéria de dívida pública", garantindo que as metas para 2010 serão atingidas.

Sugerir correcção