Cinco intervenções nas ruas do Porto para "melhorar a vida" das pessoas

O Bairro Criativo vai tomar conta dos largos dos Lóios, S. Domingos e Duque da Ribeira e das praças do Infante e de Almeida Garrett, com várias intervenções no espaço público

Scott Burnham interessa-se há vários anos pela forma como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença na forma como vemos a cidade. "É muito fácil dizer: precisamos de uma nova escola, de um novo sistema de transportes. Essas coisas são importantes, mas podem levar anos. Também é importante fazer coisas simples e de forma muito rápida", diz.

É isso - "coisas simples", mas que melhoram a vida das pessoas - que o inglês quer ver hoje e amanhã, no centro histórico do Porto. Burnham é o comissário das cinco intervenções do Bairro Criativo no espaço público, integrado no congresso Portugal Criativo, que é parte da estratégia para reforçar o peso das indústrias criativas na economia do Norte. As intervenções são todas "muito diferentes, mas há sempre um elemento de descoberta", descreve Burnham, que estará presente nas inaugurações, hoje, às 17h30.

Diogo Aguiar considera o Largo dos Lóios um espaço público "descaracterizado", "condicionado pelo grande fluxo de trânsito". Ele e a companheira no atelier de arquitectura LIKEarchitects, Teresa Otto, escolheram intervir na paragem de autocarros, "demasiado central" no contexto do largo, acrescentando à mesma uma peça vermelha, com uma forma surpreendente.

Foi também para "melhorar a vida" das pessoas que Rita Maia, Ricardo Cardoso e Pedro Lopes resolveram montar no Largo Duque da Ribeira uma horta comunitária a que chamaram Farmville for Real. "Foi uma resposta bastante pragmática. Pediam-se coisas de fácil produção, de baixo custo e que tivessem algum impacto ao nível da vida das pessoas", explica Ricardo Cardoso. O designer assume a provocação: "Se calhar mais vale fazer [uma horta] a sério" e deixar o Farmville, o popular jogo do Facebook, que consiste na manutenção de uma quinta virtual. A equipa espera que o projecto se possa manter por mais algum tempo e a organização abre essa possibilidade, deixando a decisão nas mãos da comunidade local.

Hoje, às 17h30, e nos restantes dias da semana, às 15h, haverá uma performance de nove alunos do Balleteatro do Porto que, munidos de fatos impermeáveis, vão tomar banho em chuveiros instalados na Praça do Infante. A performance faz a "ligação entre o espaço público e o espaço privado", explica a coordenadora do serviço educativo do Balleteatro, Lara Soares, e quer surpreender os turistas que aproveitam a praça para se refrescar com o sistema de rega automática.

Não muito longe dali, no Largo de São Domingos, haverá um tapete de relva a alertar para a falta de espaços verdes na cidade. A equipa que o concebeu é responsável pelos cubos que vão estar na Praça Almeida Garrett, frente à Estação de S. Bento. Funcionam como um puzzle em três dimensões - há cinco fotografias representativas do Porto para montar.

Fazer barulho

Scott Burnham tem observado à distância as movimentações do Porto nas chamadas indústrias criativas, que vão desde a música à arquitectura. O "estratega criativo", como se define, já trabalhou em Amesterdão, Barcelona, entre muitas outras cidades. "O conceito é fresco para Portugal, mas deu provas em muitas cidades. A economia de Amesterdão é baseada nas indústrias culturais", exemplifica.

As indústrias criativas têm uma dupla vantagem: "criam oportunidades" para quem vive e trabalha nas cidades, ao mesmo tempo que permitem um amplo potencial para "comunicar a cidade no estrangeiro". "A Casa da Música é um bom exemplo, mas não é preciso que seja algo tão caro", diz.

Burnham considera que o Porto tem "uma quantidade enorme de talento. O que é preciso é ter veículos para mostrá-lo". A cidade tem que saber vender-se e fazer um pouco mais de "barulho", defende. O Bairro Criativo "é uma pequena forma de o fazer". "Quero que o Porto mostre a sua criatividade. Gosto de fazer isso literalmente: vamos ver a criatividade da cidade na rua."

O congresso Portugal Criativo é organizado pela ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas) e pela Fundação da Juventude, hoje e amanhã, em vários locais do centro da cidade. A sessão de abertura do congresso está marcada para as 9h de hoje, no Palácio das Artes, Fábrica de Talentos.

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