Cortiça avança com a maior promoção de sempre para combater vedantes artificiais

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Exportações desiludiram no ano passado MIGUEL MADEIRA

InterCork prevê passadeiras vermelhas de cortiça nos Estados Unidos e uma floresta de rolhas no centro de Paris. Até final do próximo ano, serão investidos 21 milhões de euros

Nunca o único sector económico em que Portugal é líder investiu tanto dinheiro numa campanha institucional fora do país. O programa InterCork - Promoção Internacional da Cortiça, o maior projecto de comunicação de sempre, actuará em 12 países para credibilizar e valorizar a cortiça como produto natural e conquistar novos mercados na área de materiais de construção e decoração. Os objectivos estão definidos país a país e a intervenção é quase cirúrgica.

Depois dos 15 por cento de quebra das exportações em 2009 e da conquista de terreno dos vedantes de plástico e alumínio, o sector quer promover a imagem no exterior para recuperar quotas de mercado e consumidores e conquistar novos clientes. A cortiça chega assim às redes sociais, ao Twitter, YouTube, Facebook, com sete micro-sites, seis vídeos e três aplicações para o iPhone.

O InterCork é conduzido pela Associação Portuguesa de Cortiça (Apcor), com sede em Santa Maria da Feira, e divide-se em duas áreas: campanha de promoção da rolha de cortiça com 12,5 milhões de euros e campanha de divulgação dos materiais de construção com seis milhões. Cerca de 2,5 milhões destinam-se a desenvolver acções transversais em todos os mercados escolhidos. Feitas as contas serão investidos 21 milhões de euros, 80 por cento dos quais financiados a fundo perdido pelo Compete - Programa Operacional Factores de Competitividade, até ao final do próximo ano.

Para cada país, uma estratégia planeada e desenvolvida por agências de comunicação locais, que conhecem o território que pisam. "A campanha não é uniforme, temos uma campanha específica país a país. Queremos aumentar as exportações, recuperar quotas de mercado e consumidores", adianta o director-geral da Apcor, Joaquim Lima. Foram criados dois grupos de trabalho, recolhidas opiniões dos associados e de representantes industriais de alguns países, e analisadas 54 propostas antes do arranque.

"De certeza que continuaremos a gerar uma imagem positiva para o sector e conseguiremos fidelizar um novo grupo de pessoas para a cortiça, o público anónimo", refere Joaquim Lima. Está tudo definido. Lord Puttnam, conselheiro ambiental do Governo inglês, realizador de filmes como A Missão, nomeado para quatro Óscares, será a voz da cortiça em Inglaterra, à semelhança do que fez José Mourinho há cerca de cinco anos. Puttnam dará a cara e estará presente em acções de promoção da matéria-prima natural. Ainda em terras de Sua Majestade, onde se pretende promover a imagem da cortiça num dos três maiores supermercados, a apologia do produto fará parte do programa BBC Good Food Show, festival anual que reúne cerca de 100 mil visitantes com interesse particular no vinho e gastronomia. "A nossa convicção é de que o que viermos a fazer em Inglaterra terá repercussões nos países anglo-saxónicos", explica Joaquim Lima.

Em França, o principal destino de exportações e um dos principais consumidores de vinho do mundo, a campanha tem imagens e slogans persuasivos: "A rolha de cortiça. Muitas vezes imitada. Jamais igualada." Nas garrafas de vinho, colocam-se parafusos, tampas de caneta com a mensagem "Boa tentativa, mas... a rolha de cortiça é preferida por 92 por cento dos franceses." O InterCork quer ainda criar uma floresta aérea de rolhas de cortiça no centro de Paris. As acções programadas pretendem recuperar para a cortiça 10 a 12 por cento de garrafas de vinho produzidas em França.

Os objectivos são semelhantes nos Estados Unidos, o segundo destino das exportações, onde se pretende substituir a clássica passadeira vermelha por uma de cortiça, da mesma cor, nos eventos mais mediáticos como a cerimónia de entrega dos Óscares. Além disso, e no campo dos materiais de construção e decoração, um veículo de grandes dimensões com design arrojado e apelativo prepara-se para percorrer 15 cidades norte-americanas e do Canadá, num roadshow para dar a conhecer as inúmeras aplicações da cortiça sobretudo a arquitectos, designers e decoradores.

"Cortiça guarda todas as coisas boas" é a mensagem que será transmitida em Itália, o quinto país para onde o sector mais exporta, com garrafas que guardam flores ou frutos silvestres. Neste país, pretende-se manter a afinidade dos produtores e a preferência dos consumidores para recuperar grandes clientes nos mercados de exportação. Na Alemanha, o Intercork actuará em duas frentes para defender o território da rolha de champanhe face ao alternativo de plástico e diferenciar o pavimento de cortiça sobretudo dos que são fabricados na China.

Japão e Emirados Árabes Unidos são dois novos mercados para a campanha de materiais de construção e decoração. No primeiro país, pretende-se encontrar entre cinco a oito distribuidores para os produtos de cortiça; no segundo entrar e conquistar posição no mercado, além de tentar criar uma sólida plataforma de distribuição. Todos os mercados terão acções directas de relações públicas e mais de 250 jornalistas serão convidados a visitarem Portugal com o enfoque na promoção da cortiça e, paralelamente, na promoção de Portugal como destino turístico.

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