Angela Merkel e José Sócrates vão negociar resposta à crise da dívida em Berlim

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Merkel e Sócrates vão estar juntos na quarta-feira AFP PHOTO/ FRANCISCO LEONG

Encontro entre os dois governantes surge numa altura em que se duvida que a Alemanha aceite que o fundo de apoio europeu seja usado para a compra de dívida no mercado

O primeiro-ministro, José Sócrates, vai encontrar-se na próxima quarta-feira, dia 2 de Março, com Angela Merkel para aproximar posições sobre a reforma do fundo de socorro do euro num contexto de forte especulação sobre a possibilidade de Portugal estar já a negociar alguma forma de assistência financeira.

Segundo fontes governamentais, apesar de só ter sido anunciado ontem, o encontro em Berlim, a convite da chanceler, já estava previsto há longa data no quadro dos preparativos para as cimeiras de líderes da zona euro, a 11 de Março, e dos Vinte e Sete países da União Europeia (UE) a 24 e 25 do mesmo mês, para acordar uma resposta "abrangente" para a crise da dívida europeia. Esta resposta engloba a reforma do EFSF (European Financial Stability Facility) e o reforço da disciplina económica e orçamental no quadro de um pacto de competitividade pedido pela Alemanha e de regras mais duras de governação económica.

"Encontros entre a chanceler e outros primeiros-ministros europeus antes das cimeiras europeias são um procedimento absolutamente standard na Alemanha", explicou ao PÚBLICO um diplomata alemão, frisando que Merkel encontra regularmente nestas ocasiões "dez a doze" chefes de Governo para "trocar pontos de vista e coordenar posições". Além disso, precisou, Berlim tem por regra divulgar a agenda de cada semana da chanceler apenas na sexta-feira imediatamente anterior. Segundo apurou o PÚBLICO junto de fonte do Governo português, o executivo considera que o encontro tem um "carácter construtivo", até porque, no final, haverá declarações conjuntas, às 17h30, hora local.

O anúncio do encontro reforçou de imediato a convicção dos analistas de mercado de que a resposta "abrangente" à crise da dívida incluirá alguma forma de assistência financeira a Portugal para acalmar os mercados. "A minha impressão é que [um apoio a Portugal] fará parte do pacote, mas que poderá só ser anunciado depois da cimeira de 24 e 25 de Março", afirmou ao PÚBLICO Kevin Newman, director do think tank banking & finance MATTERS.

Esta convicção resulta, em grande parte, do endurecimento da posição da Alemanha, cujo Governo está sob uma forte pressão por parte da opinião pública e do parlamento para recusar qualquer reforma do EFSF que beneficie de alguma forma os países considerados laxistas no plano orçamental. Entre os governos do euro, é já dado como praticamente adquirido que a Alemanha não aceitará que o EFSF seja usado para a compra de dívida pública no mercado secundário. O Banco Central Europeu tem assegurado esta missão desde Maio e, segundo esta tese, poderá continuar a fazê-lo. Berlim parece não ter também grande margem de manobra para reforçar a capacidade de financiamento do EFSF (dos 250 mil milhões de euros que são possíveis actualmente para os 440 mil milhões que constituem o seu valor nominal). Portugal mantém, em contrapartida, a esperança de que o EFSF passe a poder fornecer linhas de crédito aos países com dificuldades de financiamento. Se obtiver o acordo de Merkel nesta frente, o país poderá, eventualmente, beneficiar de ajudas pontuais do Fundo sem ter que recorrer a um programa de resgate puro e duro como aconteceu na Irlanda e Grécia.

O encontro de Merkel e Sócrates terá lugar depois da primeira reunião dos representantes dos primeiros-ministros na segunda-feira, em Bruxelas, sobre os moldes do "pacto de competitividade". Com L.B.

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