Separação do negócio dos azeites faz aumentar quota de mercado da Gallo

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Peso dos produtores nacionais no azeite Gallo tende a crescer ENRIC VIVES-RUBIO

Nova estratégia da Unilever Jerónimo Martins produz resultados. No final do ano, 70 por cento das receitas deverão chegar do exterior. Azeite Gallo é o quinto mais vendido no mundo

A decisão foi de gestão e motivada pela necessidade de focalização de negócio. Uma coisa são sopas, caldos, gelados e chá gelado, outra são azeites e vinagres, sujeitos às oscilações muito próprias da matéria-prima.

Em Julho de 2009 a Unilever Jerónimo Martins decidiu autonomizar a unidade de azeites e óleos vegetais, onde se destaca a marca Gallo. Mais de um ano depois a quota de mercado em Portugal passou de 23,3 por cento (finais de 2009) para 27,1 por cento em Setembro deste ano.

"Reforçámos a liderança no mercado português e no mercado brasileiro de uma forma muito dramática e mantivemos uma posição de liderança na Venezuela", diz Pedro Cruz, 44 anos, director-geral da Gallo Worldwide. No Brasil, onde o azeite Gallo aumentou a quota de 24 para 28 por cento este ano, a empresa beneficiou da valorização do real face ao euro. China e Japão são apostas a longo prazo mas já apresentam crescimentos de dois dígitos - não especificados por Pedro Cruz - que, a par do Brasil, contribuíram para que a facturação chegasse aos cem milhões de euros em 2009. O facto de estes mercados terem sentido em menor escala os efeitos da crise financeira mundial ajudou a Gallo a superar as estimativas de receitas.

"No primeiro semestre registámos um crescimento forte, de dois dígitos acima das nossas expectativas. Estamos a crescer em Portugal mas esta subida é impulsionada pelos mercados internacionais. No final de 2010 o peso das exportações nas vendas deve chegar aos 70 por cento", aponta.

A internacionalização foi, aliás, um dos argumentos fortes para justificar a cisão. No relatório e contas da Jerónimo Martins (que detém 45 por cento do capital da Gallo Worldwide; os restantes 55 por cento são da Unilever) lê-se que centrar uma equipa num produto tão específico como o azeite facilita "a consumação do potencial que advém de um âmbito geográfico mais alargado, através da internacionalização de uma área que se perspectiva de forte desenvolvimento futuro". A marca Gallo está em 40 países, é a quinta mais vendida no mundo e mantém a liderança em Portugal, Brasil e Venezuela.

"Há cinco anos não estávamos sequer entre as dez primeiras marcas mais vendidas no mundo. Há três, éramos a oitava. Agora, a luta é mais difícil porque cada degrau é maior. Ombreamos com marcas italianas e espanholas", aponta Pedro Cruz. A Bertolli, que nasceu em 1865 na Toscânia, é a líder mundial.

Em termos de organização, a Gallo Worldwide passou a deter os activos do negócio, que incluem as participadas Victor Guedes e a Gallo Brasil Consultadoria. Foi constituída uma equipa de 112 trabalhadores e recrutaram-se dez novos quadros, sobretudo fora de Portugal.

Pedro Cruz acredita que a conquista do primeiro prémio Mário Solinas Azeite Novo 2009-2010 vai ajudar a desbravar caminhos em novos mercados, nomeadamente na Europa, onde a presença em termos de volume é "limitada". "Funciona como um cartão-de-visita nesses mercados e ajuda o produto a não aparecer como desconhecido, [oriundo] de um país que tem pouca imagem como produtor de alguma coisa. Espanha e Itália são reconhecidos facilmente por produzirem azeite ou outros produtos alimentares. Nós temos essa dificuldade a vencer", diz.

Marcas próprias ameaçam

O domínio do mercado nacional é disputado com as marcas da distribuição que ocupam o segundo lugar na preferência dos consumidores. É com elas que o azeite Gallo combate e Pedro Cruz acredita que a predominância do produto com o rótulo das maiores cadeias de supermercados e hipermercados ainda tem muito espaço para crescer.

"Numa situação adversa, temos feito um grande esforço para continuar a dar um nível de qualidade ao produto com consistência absoluta e o consumidor reconhece esse trabalho", afirma. É pela diferenciação que a Gallo quer manter os seus clientes e conquistar novos.

A empresa não detém uma única oliveira, nem tem planos para investir no olival. Neste aspecto, o modelo de negócio mantém-se igual desde 1919. Por ano, a Gallo recebe entre cinco a oito mil amostras de azeite de produtores nacionais, das quais 70 por cento são rejeitadas.

"Tendencialmente a percentagem de azeite proveniente de Portugal será de 100 por cento. Talvez nesta campanha 2010-2011, que começa em Outubro, Portugal já seja auto-suficiente. A acontecer, será a primeira vez desde 1953", explica o director-geral. Apesar do aumento de produção nacional, a importação de azeite de outros mercados não vai parar. Pedro Cruz adianta que o objectivo é manter as características do produto e a consistência do sabor.

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