Valença e Tui

Separadas apenas pelo rio Minho, cidades querem partilhar os equipamentos

"De Espanha, vêm bons ventos e melhores casamentos". Fala quem sabe! José Manuel Sousa, de 58 anos, há 46 que é empregado de balcão de um dos estabelecimentos comerciais localizados no interior da fortaleza de Valença. Por lá, apesar de ser território português, o galego é uma das línguas mais faladas. E isso, garante o comerciante, não é nem novidade, nem surpresa. A relação com os galegos e com a Galiza, que ficam logo ali, do outro lado do rio Minho, é secular e nem a Guerra Civil ou as burocracias da fronteira alguma vez quebraram este "namoro". Uma relação que vai ser finalmente oficializada com a geminação das cidades de Valença e Tui, numa cerimónia oficial marcada para 25 de Março, data em que também são assinalados os 125 anos da ponte internacional que une ambas as margens. É o primeiro passo para a criação da eurocidade tão ambicionada pelas autarquias de ambos os países, Portugal e Espanha.

A nova entidade territorial vai dar fôlego a uma estratégia definida pela Câmara de Valença e pelo Ayuntamiento de Tui de partilha de equipamentos e serviços em diversas áreas, como saúde, educação e cultura. "A nossa piscina é, sobretudo, utilizada pela população de Tui e dos concelhos vizinhos. Eles têm lá um excelente auditório com capacidades para centenas de pessoas que nós não temos e poderemos utilizar", exemplifica Jorge Mendes, autarca de Valença. Uma visão partilhada pelo alcaide do Ayuntamiento (presidente da Câmara Municipal) de Tui. António Fernandez Rocha defende que, "nos tempos difíceis em que estamos", a prioridade das duas cidades tem de ser a partilha, de forma a reduzir custos. "Temos de trabalhar para sacar rentabilidade máxima às nossas instalações, sejam do tipo que forem. Podem ser educativas, executivas, sanitárias ou culturais".

Para que isso seja possível, a Uniminho, uma associação transfronteiriça que engloba 21 municípios do Alto Minho e da Galiza, e a CCDR-N (Comissão de Coordenação Regional do Norte) estão a estudar todas as equações. O processo está já em fase final de conclusão e, segundo fonte da Uniminho, deverá ser apresentado a muito curto prazo.

A criação da eurocidade é aplaudida por Rui Solheiro, presidente da Uniminho, que espera conseguir replicar o exemplo e tornar o Alto Minho e a Galiza numa euro-região. Até lá, "muita coisa falta fazer". "Falta mais investimento do lado português, para haver maior equilíbrio em termos de desenvolvimento", explica. Muitos passos estão já a ser dados para esta união, como a elaboração de um estudo para a criação de uma rede de transportes públicos transfronteiriça. A fronteira entre Caminha e Melgaço é diariamente atravessada por cerca de cinco mil pessoas que vivem num lado e trabalham no outro. São indivíduos que se deslocam em viatura própria por falta de alternativas.

Na área da saúde, e com base num acordo entre Portugal e Espanha assinado em Janeiro de 2010, está a ser realizado um outro estudo que resulta na proposta da utilização comum dos equipamentos de saúde. O estudo, que terá ainda de ter o aval dos governos de Lisboa e de Madrid, deverá estar concluído em Julho. "Vamos dizer aos dois governos quais são os serviços que existem, qual a população que vão servir e quais são possíveis de executar, porque os sistemas de Segurança Social dos dois países são compatíveis", explica Rui Solheiro, exemplificando com o caso do hospital de Vigo: "os portugueses vão poder recorrer a algumas das especialidades que lá existem".

Para já, à escala da eurocidade, em Valença e em Tui começam a ser pensadas formas de unir ainda mais as duas cidades. Uma delas é um teleférico sobre o rio Minho. O presidente da câmara portuguesa, Jorge Mendes, diz que o projecto vai ser apresentado publicamente no dia 25 de Março, dia da geminação. Susana Ramos Martins

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