Aposta no mar e na criatividade do Norte já está a avançar

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As palavras de Cavaco não foram tão duras como em 2007 NUNO FERREIRA SANTOS

As prioridades apontadas por Cavaco Silva não são novidade, mas estão ainda no início. Protagonistas agradecem visibilidade externa

As duas "novas oportunidades" para ajudar Portugal a sair da crise a que o Presidente da República se referiu no discurso do 25 de Abril não são novidades. A aposta tanto nas potencialidades do mar como nas indústrias criativas do Norte (ver texto ao lado) é uma realidade que já está estudada e já tem estruturas próprias para a sua promoção e desenvolvimento. Mas o discurso presidencial foi bem recebido nos dois casos, sobretudo pela visibilidade externa que lhes proporcionam.

O mais importante para a criação de uma verdadeira economia do mar em Portugal "está em começo de execução", defendeu ontem Ernâni Lopes, economista e presidente da consultora SAER, que há menos de um ano realizou um extenso estudo sobre a estratégia que o Governo e as empresas devem seguir para tirar proveito dos recursos marinhos, para o qual recebeu o apoio da Associação Comercial de Lisboa.

Em causa está a formação de um fórum empresarial para a economia do mar, que vai ser apresentado publicamente esta quinta-feira e será presidido pelo presidente da Associação Comercial de Lisboa, Bruno Bobone - que é também presidente do grupo Pinto Basto, ligado ao transporte marítimo de mercadorias. Deste fórum irão fazer parte várias empresas que estão ligadas aos recursos marítimos em diferentes áreas, incluindo a parte energética, os transportes marinhos e o turismo.

Vai ser este novo Fórum Empresarial da Economia do Mar, que Ernâni Lopes espera que esteja operacional dentro de um mês, que será o "novo quadro de articulação de estratégias das empresas portuguesas [ligadas à economia do mar] entre si e entre estas empresas e o Estado", salientou o mesmo responsável. "Não estamos a falar apenas de mais uma associação", sublinhou o também antigo ministro das Finanças.

O estudo apresentado em 2009 identificou um leque de sectores nos quais o país pode diferenciar-se. "Temos uma noção profunda de que esta pode ser uma das vias para o futuro da economia portuguesa", defende o responsável da SAER.

As oportunidades a explorar são muitas: desde o aproveitamento do potencial dos desportos náuticos e do mar enquanto pólo de actividades turísticas, passando pelas energias renováveis e também pela importância dos portos e da logística marítima para o comércio internacional.

O estudo da SAER prevê também que, se forem aplicadas as medidas preconizadas, o conjunto de actividades (clusters) incluídas num futuro hypercluster da economia do mar pode ter um peso directo de quatro a cinco por cento no PIB por volta de 2025, ou seja, cerca do dobro do actual.

Ao nível dos efeitos indirectos, o peso seria de dez a 12 por cento, além de poder criar novos postos de trabalho, e até mais qualificados, além dos cerca de 75 mil que existem hoje.

Cavaco: mar e conciliação

Ontem, no Governo repetiam-se as frases de José Sócrates à saída da sessão no Parlamento - que o discurso presidencial é inspirador para a acção política. Mas junta-se um outro dado. O executivo pode não ter definido o mar como prioridade política, mas tem "obra" feita, como é o caso da reestruturação portuária.

Os efeitos das palavras de Cavaco Silva na sessão de domingo no Parlamento são, assim, suavizados, comparando com outras intervenções. Como a do 25 de Abril de 2007, dois anos após a eleição e quando o PS ainda tinha maioria absoluta, e em que o Presidente pediu ao executivo que fizesse reformas de fundo.

Entre os dois maiores partidos, há uma leitura comum: além da conjuntura de crise, pouco propícia a conflitos, também há o calendário presidencial de Cavaco, a poucos meses das eleições de 2011. Foi, aliás, o próprio presidente do Parlamento, Jaime Gama, a chamar a atenção para a questão, ao defender que se faça "um grande debate" na campanha para as presidenciais.

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