"Loja Social" é hipótese apontada para edifício da escola no Alto da Fontinha

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O Es.Col.A vai escrever às associações do Porto pedindo-lhes que recusem eventual convite da câmara para se instalarem na Fontinha MANUEL ROBERTO

Colectivo Es.Col.A pôs de parte, no imediato, a tentativa de reocupação do edifício que ontem foi, de novo, selado pela Polícia Municipal e pelos funcionários da Câmara do Porto

O colectivo Es.Col.A não vai, para já, tentar reocupar o edifício da antiga escola do Alto da Fontinha, de onde a Câmara do Porto o despejou na semana passada. Em contrapartida, o movimento vai escrever uma carta aberta às associações da cidade que, eventualmente, possam estar a ser convidadas pela autarquia para se instalarem no espaço devoluto, para que não aceitem fazê-lo.

A Câmara do Porto ainda não divulgou qual o projecto que pretende instalar na antiga escola primária, mas já anunciou que as obras no edifício vão arrancar no segundo semestre deste ano. Ontem, na 48.ª assembleia do Es.Col.A, uma das participantes apontou uma possibilidade. A mulher, que preferiu manter o anonimato, é directora de uma associação da cidade e diz que há cerca de um mês foi contactada pelos serviços municipais, que a convidaram a transferir a sede da sua associação para uma sala de uma espécie de "Loja Social" onde seriam reunidas várias instituições do Porto. "Não me disseram que seria aqui, mas indicaram que era um edifício vazio, entre a Câmara do Porto e o Marquês, e a ideia com que fiquei é que iriam convidar outras entidades para vir para cá", disse.

Na assembleia, ninguém ficou com dúvidas de que a escola do Alto da Fontinha seria o espaço a que os serviços municipais se referiam e a proposta de José Soeiro, ex-deputado do Bloco de Esquerda, para que fosse escrita uma carta aberta a todas as associações da cidade foi aprovada por maioria. As cerca de 300 pessoas presentes também concordaram em criar grupos de trabalho para desenvolver várias iniciativas - desde colocar tijolos em frente à casa do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, a fazer barulho diariamente junto aos paços do concelho ou a entupir com queixas o livro de reclamações da autarquia - e em manter, nos espaços ao ar livre nas imediações da escola, as actividades desenvolvidas, até à semana passada, no interior do edifício.

O que ficou para já posto de parte foi a reocupação da escola. E aqui pesou a opinião de alguns moradores, que apontaram a "confusão" gerada entre as crianças que frequentavam o espaço. "Um dia ocupamos, depois vem a polícia e fecha tudo, os miúdos ficam baralhados. Assim não pode ser", disse uma mãe.

Ontem foi também o dia em que a Polícia Municipal (PM) e funcionários camarários regressaram à escola, de onde retiraram portas, janelas e equipamento sanitário. As ligações de luz e água também foram desligadas e inutilizadas. Os acessos ao interior do edifício foram, desta vez, fechados com tijolo e cimento.

No seu blogue, o colectivo acompanhou as tarefas dos funcionários, criticando: "Canalização destruída, sanitas e lavatórios para o lixo, haveres da Es.Col.A retirados, mobiliário destruído, instalação eléctrica propositadamente estragada. A Es.Col.A está neste momento vazia e emparedada. Mais um espaço público devoluto de pessoas e bens, como a câmara sempre quis".

Depois de, anteontem, apoiantes do Es.Col.A terem reocupado o edifício por algumas horas, e de membros do colectivo terem manifestado a vontade de dialogar com a Câmara do Porto, o PÚBLICO questionou a autarquia sobre a existência de algum contacto entre as duas partes, mas não obteve resposta.

O colectivo Es.Col.A ocupou o edifício municipal, abandonado há cerca de cinco anos, em Abril de 2011. O primeiro despejo ocorreu no mês seguinte, mas a pressão social levou a autarquia a retroceder, permitindo que o projecto se instalasse na antiga escola ainda em Julho do ano passado. Os membros do Es.Col.A montaram um conjunto de actividades destinadas às crianças e outros moradores, incluindo apoio escolar, jantares comunitários e um conjunto de ateliers.

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