Portugal arrisca-se a passar mais 15 anos sem resolver o problema do défice

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A OCDE prevê um desemprego persistente em Portugal PAULO PIMENTA

OCDE admite que, em 2025, o desequilíbrio das contas permanecerá acima da meta de Bruxelas. Dívida pública pode não deixar de crescer, com o crescimento abaixo da média europeia

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reviu ontem em alta a sua previsão de crescimento para este ano em Portugal, apresentando a visão mais optimista publicada até agora sobre a evolução da economia nacional. Contudo, ao mesmo tempo que deu com uma mão, a organização tirou com a outra, prevendo que o desemprego não baixe dos dez por cento tão cedo (ver caixa) e avisando que, se tudo se mantiver como agora, Portugal perderá mais 15 anos sem resolver alguns dos seus principais problemas: crescimento fraco e um défice público elevado.

Tentando antecipar como estarão as economias desenvolvidas dentro de cinco e 15 anos, com base nas circunstâncias actuais, a OCDE estima, no Economic Outlook de Maio, que o PIB português cresça apenas 1,6 por cento ao ano de 2012 a 2025, sempre abaixo da média da zona euro e do grupo de 30 países desenvolvidos da OCDE.

Paralelamente, os esforços de consolidação orçamental já anunciados poderão não ser suficientes e haver necessidade de novas medidas, pelo menos se Portugal quiser ficar abaixo do limite de três por cento do défice imposto aos países do euro. Segundo a OCDE, o país arrisca-se a chegar a 2025 com este indicador nos 3,2 por cento. Fora das regras estariam também a Grécia, a Itália e a Irlanda. Do mesmo modo, a dívida pública portuguesa deverá chegar aos 109 por cento do PIB em 2025, face aos 87 por cento de 2009, ou seja, mais longe dos 60 por cento definidos por Bruxelas.

Igualmente preocupante é a dificuldade que o país está a demonstrar em resolver outro dos seus problemas estruturais: a dependência do estrangeiro. Segundo a OCDE, Portugal vai ultrapassar a Grécia este ano e tornar-se o país com o maior défice externo no mundo desenvolvido, tanto este ano (com um valor equivalente a 10,2 por cento do PIB) como em 2010 (com 10,3).

Para o resto do mundo, os cenários também não são efusivos, com a OCDE a alertar mesmo que, "sem decisões políticas fortes, o crescimento permanecerá medíocre, o desemprego e o défice continuarão altos e os desequilíbrios persistirão". Em contrapartida, a organização diz que um pacote de medidas implementado de 2011 em diante, que envolvesse consolidação orçamental e reformas estruturais, poderia vir a somar 0,2 por cento ao cenário de crescimento global dos países desenvolvidos.

Austeridade limita consumo

Para este ano, a OCDE prevê um crescimento de um por cento da economia portuguesa, o que bate todas as previsões até ao momento, quer do Governo e do Banco de Portugal, quer do FMI. Contudo, já a partir do próximo ano, Portugal deverá começar a desacelerar, crescendo apenas 0,8 por cento. Tanto em 2010 como em 2011, o país continuará a divergir dos seus parceiros da zona euro, onde se prevê um crescimento de 1,2 e 1,8 por cento este ano e no próximo. Para a economia mundial, a previsão é de 2,7 e 2,8, respectivamente.

Em Portugal, a OCDE acredita que "a contribuição da procura interna para o crescimento será limitada", já que a "consolidação orçamental irá restringir o consumo e o aumento de rendimento das famílias". A organização considera ainda difícil que o sector exportador puxe pela economia, como no primeiro trimestre. "O aumento dos custos laborais durante a crise e a baixa produtividade fazem com que seja improvável que Portugal reconquiste quota de mercado".

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