Cavaco Silva promete exercer "magistratura activa"

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"O que teria acontecido sem os alertas e os apelos que lancei?", questionou NUNO FERREIRA sANTOS

Não haverá outdoors e a campanha será "contida" nas despesas. Mas Cavaco promete mais intervenção caso seja reeleito em Janeiro

Sete páginas, 25 minutos de discurso e um aviso, em jeito de recado e promessa: se for reeleito Presidente da República, Cavaco Silva exercerá uma "magistratura activa", expressão que, ao longo da campanha eleitoral, poderá substituir a recorrente "magistratura de influência".

Ontem, ao princípio da noite, na apresentação da sua recandidatura, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Cavaco aludiu apenas uma vez a esta "magistratura activa". Fê-lo na sequência da enumeração das características que, em seu entender, devem ser apanágio dos chefes de Estado (conhecimento, experiência, rectidão, serenidade, realismo, bom senso): "Sendo certo que ao Presidente não cabe governar ou legislar, não deve, contudo, deixar de exercer uma magistratura activa que favoreça a modernização da sociedade e o crescimento da economia, a criação de emprego, melhores condições para os jovens, que favoreça o combate à precariedade do trabalho e à pobreza e a preservação da coesão nacional."

Três páginas depois, e verbalizadas algumas das frases-chave que provavelmente integrarão a sua campanha ("acredito que podemos vencer" e "eu acredito"), Cavaco Silva justificou, de certa forma, a urgência de uma "magistratura activa". Reclamou "resultados positivos" para a magistratura de influência por si conduzida desde que foi eleito para Belém, em 2006, e aproveitou para lamentar que a mesma não tenha sido bem acolhida ao longo do seu mandato presidencial. "Sei bem que a minha magistratura de influência produziu resultados positivos. Mas também sei - e esta é a hora de dizê-lo - que podia ter sido mais bem aproveitada pelos diferentes poderes do Estado", disse, numa referência velada à tese de que, em diversos momentos, as suas previsões e apelos não foram ouvidos.

Balanço do mandato

Contudo, se não o tivesse feito, qual seria agora a situação do país?, questionou. "Portugal encontra-se numa situação difícil. Mas há uma interrogação que cada um, com honestidade, deve fazer: em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi ao longo do meu mandato?", disse. E, continuando num exercício que misturou alguma dose de dramatização com história virtual, continuou: "O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lancei na devida altura, sem os compromissos que estimulei, sem os caminhos de futuro que apontei, sem a defesa dos interesses nacionais que tenho incansavelmente promovido junto de entidades estrangeiras?"

A evocação do seu trabalho ao longo dos últimos cinco anos foi, aliás, um dos temas reincidentes do discurso, com referências aos roteiros, à "transparência" do seu mandato, ao seu "conhecimento" das "preocupações e incertezas" dos portugueses, da "realidade internacional" e da "realidade da instituição militar" (dedicou, note-se, uma parte considerável das suas palavras às Forças Armadas) e à "coerência" das suas posições.

Mas reservou para o início da apresentação da sua recandidatura a tradução de uma campanha poupada: anunciou que não terá outdoors e que a despesa total da sua campanha não vai ultrapassar metade do valor permitido por lei (ou seja, rondará 2,09 milhões de euros, segundo a Lusa). Na pequena e abarrotada sala Fernando Pessoa irromperam aplausos. "Sei que isso me pode prejudicar face aos outros candidatos", assumiu Cavaco, "mas quando tantos sacrifícios são exigidos aos portugueses, os agentes políticos devem dar o exemplo. Não me sentiria bem com a minha consciência gastando centenas de milhares de euros com a afixação de cartazes."

Para o final deixou o aviso aos seus adversários na corrida a Belém de que, a partir de agora, saberá "distinguir as duas qualidades" de que é "portador" e reiterou que, mais do que um interesse "pessoal", a sua recandidatura consiste num "dever". "Sinto que tenho um dever para com os portugueses", disse.

Agradeceu, por último, aos seus mandatários: o neurocirurgião João Lobo Antunes, mandatário nacional, a maestrina Joana Carneiro, escolhida para a Juventude, Vasco Valdez, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, mandatário financeiro, e Diogo Vasconcelos, mandatário digital.

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