Condecorada por defender a República, Câmara de Ovar procura a insígnia perdida

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Câmara recebeu insígnia em 1921

O Colar da Ordem da Torre e Espada foi entregue ao concelho pela luta contra os avanço das tropas da monarquia do Norte

A peça tem um carregado valor simbólico: representa a bravura das gentes de Ovar no tempo em que a República queria ganhar raízes no país. O esforço não foi em vão e acabou reconhecido na condecoração da Ordem da Torre e Espada, do Valor de Lealdade e Mérito, atribuída no final da década de 20 do século passado. Foi Mouzinho de Albuquerque, ele próprio, em representação do Governo da época, que mostrou ao povo de Ovar pela primeira vez a distinção em carne e osso. O diploma está na posse da câmara, mas o colar desapareceu sem deixar rasto.

Ainda no século passado, em 1997, o então presidente da autarquia lembrou-se do colar e deu ordens precisas aos serviços do património da divisão da cultura: era preciso encontrar a insígnia. As pesquisas que terão sido feitas nessa altura não tiveram sucesso. Até que, este ano, com o aproximar das comemorações do centenário da implantação da República, a vontade ganhou novo fôlego. O museu da cidade recebeu, em Setembro, a exposição República e os serviços foram novamente remexer na história.

Ovar promete não desistir e se não for possível encontrar a peça, ao menos que se esclareça a data em que o colar deixou de morar no edifício camarário. São essas as orientações que agora bateram à porta dos técnicos. E se todos os esforços forem por água abaixo, a reprodução de um exemplar será colocada em cima da mesa e os responsáveis políticos serão chamados a pronunciarem-se sobre o que fazer.

Alberto Lamy, historiador de Ovar, atira algumas possibilidades para tentar explicar o desaparecimento da peça. "Provavelmente os republicanos apoderaram-se do colar, durante o Estado Novo, ou perdeu-se ou então está nas mãos de alguém que tem vergonha de o entregar", refere. A solução para tão estranho desaparecimento tem, em seu entender, uma solução nada complicada. Mande-se fazer um exemplar numa casa que perceba da arte e exponha-se a peça na câmara, mesmo à entrada ou no átrio do piso superior. "Até porque nem toda a gente tem essa insígnia. Nesta região, só Aveiro e Ovar é que têm a Ordem da Torre e Espada por causa da monarquia do Norte", assinala.

Linha férrea destruída

A coragem com que os ovarenses defenderam a República e lutaram pela sobrevivência desse regime não passou despercebida aos responsáveis máximos da nação. Alberto Lamy conta o que aconteceu no terceiro volume da sua monografia dedicada a Ovar. A 21 e 22 de Janeiro de 1919, os ferroviários vareiros destruíram a via onde o comboio passava para retardar o avanço das tropas monárquicas que chegavam do Norte. O que permitiu que as tropas republicanas se aglomerassem em Aveiro e se preparassem para a luta.

Um ano depois, no primeiro aniversário da entrada das tropas republicanas em Ovar, a 12 de Fevereiro de 1920, o general Mouzinho de Albuquerque, representando o Governo e o ministro da Guerra, deslocou-se à vila para colocar as insígnias da Torre e Espada na bandeira do município e o colar ao peito do comandante do 3.º Batalhão de Infantaria 24, o capitão Zeferino Camossa Ferraz de Abreu.

Foi um dia de festa na terra que, segundo os homens que comandavam os destinos do país, mostrou "a sua ardente fé republicana e indefectível patriotismo, demonstrando valor e coragem pela resistência que durante algumas horas opôs à entrada dos revoltosos monárquicos que em grandes forças marchavam para o Sul". E o colar continua a ser a peça que falta para que a importante condecoração fique completa.

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