Sai a ministra que degradou a imagem da França e entra "o melhor entre nós"

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Alliot-Marie tornou-se um peso para o Presidente Sarkozy PHILIPPE WOJAZER/reuters

Quebrando um silêncio muito criticado, o Presidente francês fez um curto discurso para falar da sua política externa e confirmar mudança de mãos na diplomacia

Ao fim de um mês de ataques e pedidos de demissão, Michèle Alliot-Marie, a ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, anunciou ontem a sua saída numa carta dirigida ao Presidente Nicolas Sarkozy. Como se esperava, a liderança da política externa caberá agora a Alain Juppé: "O melhor entre nós", nas palavras do ex-Presidente Jacques Chirac (ver caixa).

A queda da chefe da diplomacia francesa não foi surpresa e muitos a classificaram de "inevitável". A sua demissão era anunciada pela imprensa e exigida por ministros e responsáveis tanto da maioria de direita como da oposição. Também os eleitores se mostravam descontentes e pelo menos mais de metade queria vê-la afastada do cargo, segundo várias sondagens.

Ontem, Nicolas Sarkozy foi à televisão para confirmar o que todos já sabiam e despedir-se da ministra que, segundo muitos franceses, degradou a imagem do país.

A saída de MAM (as iniciais por que é tratada pela imprensa francesa) vem na sequência do escândalo das suas férias na Tunísia, na altura em que eclodia a revolução que acabou por levar à queda do ditador Ben Ali, e ainda de negócios dos seus pais com um importante empresário tunisino.

Com a acumulação de escândalos e acusada de ter relações próximas com os regimes árabes autoritários, Alliot-Marie, de 64 anos, começou a tornar-se um peso para Sarkozy, concentrando na sua figura todas as críticas dirigidas à diplomacia francesa.

Na sua carta de demissão, Michèle Alliot-Marie escreve ter servido o país com "orgulho e felicidade". A agora ex-ministra diz ter-se esforçado por respeitar as exigências não só da legalidade, mas também da dignidade, da moral e lealdade durante o exercício das suas funções.

Sobre os escândalos em que se viu envolvida, Alliot-Marie afirma ter sido "alvo de ataques políticos" que criaram suspeitas e mentiras. Acrescenta também ter respondido ponto por ponto às acusações que lhe foram feitas para tentar "restabelecer a verdade" e adianta que a sua família tem sofrido uma "verdadeira perseguição" por parte da imprensa francesa.

Depois de dizer que a "campanha" dos media não destrói as suas relações com parceiros internacionais nem a sua capacidade de prosseguir a missão que Sarkozy lhe confiou, a ministra declara, todavia, não poder aceitar que alguns "utilizem esta cabala para fazer crer que há um enfraquecimento da política internacional francesa". E sublinha que não cometeu nenhum "incumprimento".

Pasta em crise

Alain Juppé herda assim uma pasta em crise. Não é novo no Governo francês: ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 1995 e 1997 e entre 1993 e 1995 foi ministro dos Negócios Estrangeiros. O seu actual lugar deverá ser ocupado por Gérard Longuet, líder do partido União para o Movimento Popular. Também Brice Hortefeux, até agora conselheiro político de Sarkozy, deixa o Ministério do Interior e é substituído pelo secretário-geral do palácio do Eliseu, Claude Guéant. Esta será a décima equipa de Sarkozy desde a sua eleição e a quarta remodelação ministerial num ano.

Num curto discurso ontem à noite, o Presidente quis emendar a mão sobre o silêncio nas questões externas. Afirmou que as revoluções em curso no mundo árabe abriam uma "nova era" nas suas relações com a França, próxima desses países por razões históricas e geográficas. O Presidente disse ser necessário que as "boas vontades" se unam, não permitindo que revoluções dêem azo a ditaduras piores que as precedentes.

Criticado por o seu país não ter até agora mostrado a sua solidariedade com as revoluções árabes, Sarkozy anunciou que a França tem um único objectivo: "Acompanhar, apoiar e ajudar os povos que escolheram ser livres".

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