A longa marcha de João Vieira terminou numa inesperada medalha de bronze

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Esforço, dedicação e capacidade de superação nos momentos difíceis AFP

A comitiva portuguesa em Barcelona começou em festa com o terceiro lugar de João Vieira. Vera Santos é uma das principais candidatas a brilhar hoje nos 20Km marcha femininos

João Vieira conseguiu ontem aos 34 anos uma inesperada medalha de bronze nos vigésimos Campeonatos Europeus de atletismo, que se disputam em Barcelona, da mesma maneira como tem gerido toda a sua carreira - com esforço, dedicação e capacidade de superação nos momentos difíceis. Foi ele quem forçou na tentativa de chegar ao segundo lugar, sempre adiante do campeão olímpico italiano dos 50km Alex Schwazer, que acabaria por se aproveitar disso para o remeter para o mesmo lugar que havia conquistado nos últimos Europeus de há quatro anos.

Chegou a Barcelona aparentemente sem demasiadas expectativas (geridas em baixa tanto por ele como pelo seu técnico Jorge Miguel, até porque vinha de um período marcado por lesões), mas conseguiu bater inclusivamente o seu anterior melhor registo da temporada por minuto e meio para acabar com 1h20m49s, num dia muito quente, e a exactamente quarenta segundos do seu próprio recorde nacional.

Os campeonatos da Europa voltaram pois a ser talismã para este algarvio de nascimento, em 20 de Fevereiro de 1976 (Portimão), mas desde muito jovem radicado na casa forte da marcha nacional, em Rio Maior. O terceiro lugar em Gotemburgo há quatro anos foi uma verdadeira surpresa e aí conseguiu, a 8 de Agosto, aquele que ainda é o recorde nacional dos 20 km marcha, com 1h20m09s. Antes nunca tinha estado próximo de um pódio num grande campeonato; depois, passou a ser um atleta muito respeitado no plano internacional e confirmou o seu estatuto de um dos melhores do mundo senão em marcas, pelo menos quanto a estabilidade e credibilidade nas competições mais rigorosamente aferidas, pelas sucessivas boas prestações no circuito internacional da marcha, o dito World Challenge da FIAA.

O que é curioso em João Vieira é que rapidamente se apresentou como uma grande esperança do atletismo português, mas progrediu apenas a espaços, dando por vezes a ideia de ser uma esperança adiada.

Logo aos 21 anos, na Taça do Mundo de Podebrady (Rep. Checa) fez 1h20m50s, batendo o recorde nacional, para acabar em 18.º lugar, feito excelente para um novato. Mas este máximo luso só o voltaria a melhorar cinco anos mais tarde em Naumburg, a localidade mítica da marcha na Alemanha (e de Leste em especial), quando a 5 de Maio obteve 1h20m44s. Três meses e um dia depois esteve na sua primeira final de um grande campeonato, nos Europeus de Munique, onde foi 12.º.

Em 2003 voltou a melhorar o seu máximo nacional dos 20km, desta feita para 1h20m30s, na Corunha, a 7 de Junho, e pouco depois participava nos seus primeiros Mundiais, em Paris-St. Denis, acabando em 17.º. Mas foi o resultado dos Jogos Olímpicos de Atenas que fez chamar mais a atenção do mundo atlético para este rapaz modesto, educado e aparentemente sorumbático. Na capital grega acabou em 10.º e o tempo obtido, com 1h22h19s, em condições muito difíceis, confirmou as suas capacidades no aspecto cronométrico.

Porém, os anos seguintes foram entremeados de problemas com as tradicionais lesões que fustigam os atletas de alta competição e só em 2006 veio o terceiro lugar dos Europeus, quando talvez não fosse esperado. A verdade é que, através de ventos em marés, fez épocas entre 2007 e 2008 com melhores resultados nas provas particulares do que nos maiores eventos, dado que terminou 25.º nos Mundiais de Osaca em 2007 e 32.º nos Jogos Olímpicos do ano seguinte. O ciclo retomou a subida com o 10.º posto dos Mundiais de Berlim do ano pasado. E agora consumou-se com este medallha de bronze, de novo algo inesperada, e que pôs a selecção portuguesa em festa logo no início dos Europeus.

Talvez não venha a ser mesmo a única medalha da família em Barcelona, dado que a sua companheira Vera Santos, de que ele é treinador, é uma das principais candidatas a brilhar hoje nos 20km marcha femininos.

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