Um soldado aborrecido e um hacker justiceiro põem a nu a Administração

Aquela que é apresentada como a maior fuga de informação de sempre pode ter tido uma origem muito simples: um soldado americano aborrecido e sem amigos na sua caserna no Iraque. Brandley Manning, 23 anos, é o principal suspeito de ter fornecido à Wikileaks, de Julian Assange, os 250 mil documentos secretos americanos.

Preso há sete meses, Manning deverá enfrentar o tribunal militar no início de 2011. As alegadas provas existentes contra ele são as mensagens que trocou com um antigo hacker, Adrian Lamo, gabando-se de ter tido acesso aos documentos, de os ter copiado para um CD do qual apagou músicas de Lady Gaga, e de os ter passado à organização do antigo hacker e "justiceiro" australiano Assange que, por sua vez, as entregou aos jornais The New York Times, The Guardian, El País, Le Monde e Der Spiegel.

Como é que Manning tinha acesso aos documentos? Nas mensagens a Lamo ele resumiu a questão: "Servidores fracos, palavras-chave fracas, uma segurança material fraca, uma contra-espionagem fraca." A isto somou-se a sua vontade de denunciar "coisas incríveis, horríveis, que devem ser do conhecimento público".

Os documentos ontem revelados circulam numa rede conhecida como Siprnet (Secret Internet Protocol Router Network) que permite aos militares e diplomatas americanos comunicar num sistema separado da Internet "civil". Segundo o Guardian, há uma série de mecanismos de segurança, como uma password com dez caracteres que tem que ser mudada de 150 em 150 dias, mas na prática as regras foram suavizadas para facilitar o trabalho.

A Wikileaks - que defende a liberdade de informação e a transparência e divulgou milhares de documentos sobre as guerras no Afeganistão e Iraque - contactou os jornais e disponibilizou a informação com uma só condição: que os cinco jornais a divulgassem nos sites ao mesmo tempo.

Numa nota aos leitores, o NYT esclarece que cada jornal é livre para tratar a informação como entender, mas que no seu caso a decisão foi a de excluir informação que pusesse em perigo pessoas ou comprometesse a segurança nacional. O jornal enviou à Administração Obama o material que tencionava publicar. A Administração condenou a publicação de material secreto e fez sugestões relativamente à edição dos textos, algumas das quais o jornal aceitou.

O NYT explica que a razão para publicar os documentos é o facto de estes contarem a história "de como o governo toma as suas grandes decisões, as decisões que mais custam ao país em vidas e dinheiro." Também o El País defende a necessidade de "informação transparente contra o secretismo dos Governos".

Hojeas comunicações de Assange são em código, e tanto ele como a sua equipa de 12 pessoas mudam constantemente de cidade e de país. A Wikileaks tem um orçamento de 712 mil euros proveniente de doações anónimas e o Pentágono terá 120 agentes a tentar travar a organização. Alexandra Prado Coelho

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