Negócio dos blindados da PSP pode acabar em Angola

O folhetim da aquisição de viaturas blindadas para a PSP pode vir a ter um novo desfecho, desta feita nos tribunais. A notícia foi avançada ontem ao PÚBLICO pelo responsável da empresa que negociou a venda das viaturas, o qual afirmou ainda que não foi notificado da rescisão do contrato por parte do Ministério da Administração Interna (MAI). A Milícias - Bens de Segurança e Tecnologias Militares admite ainda, caso os carros não cheguem à PSP, negociá-los com outra empresa, que, por sua vez, poderá reencaminhá-los para Angola.

"Não fomos notificados de qualquer rescisão do contrato de aquisição dos blindados. Se tal acontecer, poderemos recorrer aos tribunais, pois da nossa parte não houve qualquer incumprimento", disse ontem ao PÚBLICO, a partir de Luanda, o responsável da Milícias, António Amaro. Ao final da tarde, o Governo Civil de Lisboa, que liderou as negociações, emitiu um comunicado onde anuncia que vai mesmo avançar para a resolução do contrato relativamente às quatro viaturas que não foram entregues no prazo previsto.

Ao PÚBLICO, António Amaro confirmou também que a Milícias recebeu ontem um pedido de uma outra empresa, a Elite, sediada no Porto e que se dedica à segurança privada. Esse pedido, segundo disse, visa a possibilidade de ambos fazerem negócio com os quatro blindados de que o MAI quer prescindir e que, ontem, devido ao mau tempo, ainda se encontravam retidos no aeroporto de Toronto. "A preferência vai para a PSP. Os blindados estão destinados à PSP e é para lá que deverão ir. Se não for essa a vontade das pessoas, então há algumas hipóteses em aberto", disse Amaro.

A Elite, por sua vez, confirmou à agência Lusa, através do seu presidente, Manuel Magalhães, que está interessada nos carros. "Estamos em vias de assinar um contrato com um país de África que pressupõe o fornecimento de viaturas blindadas e hoje contactámos a empresa fornecedora para informá-la de que estamos interessados nas quatro que estavam destinadas à PSP", disse.

Sobre o possível negócio com a Elite ou a propósito de uma eventual venda directa a um país africano, neste caso a Angola, o responsável da Milícias não quis, para já, alongar-se. "Neste momento, não estamos interessados em falar. O que posso dizer é que a venda deste tipo de viaturas não é um processo simples. São viaturas classificadas pelas defesas nacionais dos vários países e a sua entrada carece sempre de várias autorizações."

Os seis blindados, cujo preço total é de 1,2 milhões de euros, deveriam ter chegado a Portugal a tempo da Cimeira da NATO, que teve lugar a 19 e 20 de Novembro. Até ao momento, só chegaram dois, e ambos já depois de o evento ter terminado.

A decisão de renunciar aos blindados foi ontem saudada pelo Sindicato Unificado da Polícia, que chama a atenção para outras carências da polícia, nomeadamente de equipamento de protecção pessoal. Outro sindicato, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, considerou que este caso é da responsabilidade do ministro Rui Pereira, o qual deveria ser demitido.

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