Os novos caminhos abertos em Bruxelas

Só soluções políticas podem evitar o regresso à hecatombe, da qual a Europa não se livrou totalmente

Mario Balotelli derrotou a Alemanha com dois golos no Euro 2012, Mario Monti conseguiu impor em Bruxelas (e contra a resistência da Alemanha) um acordo para tentar salvar a moeda única europeia e Mario Draghi, com tal acordo, ganha mais poder no Banco Central Europeu (BCE), que actualmente dirige. Três Marios, três italianos que, num curto espaço de três dias, subiram à ribalta por via de dois euros: o do futebol e o económico. Pois foi para o económico que a cimeira de ontem mostrou, para quem disso ainda duvidasse, ser viável apenas uma solução política. A intransigência de Merkel, quebrada praticamente à mesma hora em que a Alemanha se resignava, nos relvados, à derrota face à selecção italiana, fixa-se ainda nos princípios. Ela própria assegurava, ainda ontem: "Mantivemo-nos fiéis à nossa filosofia: nenhuma ajuda sem contrapartida. Permaneceremos por completo no esquema actual: ajuda, contrapartida, condicionalidade e controlo." Mas, apesar desta peremptória declaração, a verdade é que quer a Itália quer a Espanha, apesar de terem de assinar memorandos de entendimento, não serão forçadas a medidas de austeridade adicionais nem ao vexame de serem vigiadas por uma qualquer troika que lhes dite os próximos passos na gestão dos seus orçamentos. Sem garantias absolutas de sucesso, embora as reacções dos mercados tenham sido eufóricas, o acordo ontem arrancado a ferros na cimeira europeia (não foi apenas a Alemanha que teve de ceder, foram também a Holanda e a Finlândia) dá vários passos num sentido do desanuviamento. Se resultar, pode ser o elo que faltava para salvar o euro da morte certa que muitos já lhe vaticinavam. Mas há ainda muito para fazer depois de aprovado o actual caderno de encargos europeu. O importante é não esquecer que só soluções políticas corajosas poderão evitar o regresso à hecatombe. Da qual a Europa ainda não se livrou totalmente.

A inútil desventura do ministro Álvaro

Foi já há um quarto de século, mas muitos reterão ainda na memória as imagens da conturbada viagem de Mário Soares, então candidato à Presidência, à Marinha Grande. Foi, como se sabe, agredido por sindicalistas e manifestantes ligados ao PCP. Resultado: em lugar de descer nas sondagens, subiu. E tornou-se Presidente da República. Ontem, na Covilhã, o ministro da Economia, Álvaro dos Santos Pereira, experimentou os efeitos da ira popular e teve que ouvir, inclusive, da boca do autarca local (por sinal, do PSD) que, "para algumas pessoas, o único Governo que se preocupou com os trabalhadores foi, em 1975, o Governo de Vasco Gonçalves". O ministro ainda tentou dialogar, sem êxito: foi insultado e um dos manifestantes atirou-se para cima do carro onde seguia. Isto garantiu-lhe escolta da GNR, desistindo da cerimónia. Mas foi, na verdade, uma desventura inútil: quer para os manifestantes, quer para o Governo, que não subirá nas sondagens por causa disso.

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