Autarcas querem transferir verbas do TGV para a expansão da rede do Metro do Porto

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O objectivo da proposta é reequilibrar as contas da empresa do metropolitano PAULO PIMENTA

Junta metropolitana teme que, com o adiamento da ligação Lisboa-Porto-Vigo, as verbas comunitárias disponíveis se percam ou acabem por ser desviadas para obras à volta da capital

A Junta Metropolitana do Porto (JMP) vai propor ao Governo que, face ao protelamento do projecto da linha ferroviária de alta velocidade que deveria ligar o Porto a Lisboa e a Vigo, as verbas do Programa Operacional de Valorização do Território (POVT) alocadas a este investimento transitem para o projecto do Metro do Porto. Segundo o presidente da JMP, Rui Rio, esta solução evitaria que os fundos comunitários se perdessem e permitiria reequilibrar as contas da empresa do metropolitano e avançar com a construção da segunda fase da rede.

"Se realmente não vamos fazer a ligação Lisboa-Porto e Porto-Vigo, os larguíssimos milhões de euros alocados a estas obras ou se vão perder, ou vão parar a projectos como aqueles que já estão aprovados, todos na mesma zona do país", disse Rui Rio, segundo o qual todos os projectos já inscritos pelas autoridades portuguesas no eixo 1 do POVT (relativo a infra-estruturas de transportes) têm em comum a localização geográfica no Sul do país.

De acordo com o autarca, estão já aprovados os projectos do TGV de Lisboa a Madrid (8,3 mil milhões de euros), o novo aeroporto da capital (3 mil milhões), o IC17 entre a Buraca e a Pontinha (cem milhões), o IC32 entre Funchalinho e Coina (88 milhões) e o eixo ferroviário de mercadorias entre Silves, Elvas e Badajoz (589 milhões). Estes projectos terão ainda que ser aprovados pela Comissão Europeia.

Nada para o Norte

"Não está aprovado, até agora, nenhum projecto para a região norte", sublinhou Rui Rio, recordando que a segunda fase do Metro do Porto está orçada em cerca de 900 milhões de euros. "Se as verbas do POVT transitarem para o metro, o dinheiro do Programa Operacional do Norte poderia ser canalizado para outros investimentos, como nas escolas, com a vantagem muitíssimo grande de se reforçar o fundo perdido da Metro do Porto, que é preocupantemente muito pequeno", disse o presidente da JMP. "Seria uma medida de racionalidade económica e boa para a saúde das finanças públicas nacionais", considerou Rio.

O autarca adiantou ainda, no final da reunião mensal da junta metropolitana, que a Metro do Porto irá entregar ao Governo, até ao final do ano, o pedido de autorização para lançar o concurso da segunda fase do Metro do Porto, "conforme estava programado". "Se em Janeiro ou Fevereiro nos disserem que não podem deferir a autorização por causa da crise que o país atravessa, não vamos adoptar uma posição fechada e intolerante. Percebemos a situação do país. Se se suspenderem todos os grandes projectos, não temos autoridade moral para contestar o adiamento da segunda fase do metro. Mas o critério tem que ser igual para todo o país. Não se pode considerar que a linha da Trofa, que custa cem milhões, está ao mesmo nível do TGV para Madrid, que custa oito mil milhões", advertiu Rui Rio.

A JMP voltou ainda a criticar o sistema de cobrança de portagens nas ex-Scut, tendo Rui Rio alertado para a má imagem que se está a criar na Galiza, a qual "começa a tomar uma dimensão preocupante". "De certeza que há muitas pessoas que normalmente viriam ao lado de cá para almoçar ou fazer compras e que agora não vêm porque têm de comprar um aparelho e pagar uma caução. Eu também não viria", disse o autarca, adiantando que, caso o ministro das Obras Públicas continue a não dar respostas e a não fazer nada para atenuar a confusão, a junta metropolitana irá recorrer ao primeiro-ministro.

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