Compra de carros com incentivos cresce em Dezembro

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Espera-se uma subida média de 2,2 por cento nos preços em 2011 DR

O mercado automóvel de ligeiros recuperou este ano, mas as marcas olham pessimistas para 2011

a É já amanhã o último dia do sistema de incentivos ao abate de automóveis em fim de vida, que irá permanecer apenas para os carros eléctricos e que tem sido uma ajuda importante nas vendas dos veículos ligeiros de passageiros.

O programa de ajudas do Estado foi utilizado na compra de 25.205 veículos ao longo do último ano, entre Janeiro e Novembro, indicam os dados fornecidos ao PÚBLICO pela ACAP - Associação Automóvel de Portugal.

No entanto, Dezembro deverá tornar-se no período mais forte, uma vez que os dados mais recentes da associação apontam para "um aumento grande de vendas", com mais de sete mil veículos comercializados ao abrigo desse regime até meados deste último mês. Este número equivale a quase 28 por cento dos automóveis que tinham sido comprados neste programa durante os primeiros 11 meses do ano.

Hélder Pedro, secretário-geral da associação que representa as marcas automóveis, lembra que no final de 2009 se registou o mesmo fenómeno. "O programa teve um impacto enorme em Novembro e Dezembro do ano passado, quando houve uma explosão desses valores", comentou o responsável da associação. E recordou que no último mês do ano passado o recurso ao programa de incentivos representou 45 por cento das 41.735 viaturas no âmbito desse sistema em 2009. "O programa ajudou a que o ano passado, em vez de ser mau, não fosse dramático", sublinhou por seu turno o porta-voz da Renault Portugal, Ricardo Oliveira.

Já em 2010, os incentivos entraram em vigor depois de um intervalo sem apoios até Abril, o que teve um impacto negativo nos números face a 2009. Quem tiver um veículo ligeiro com mais de dez anos tem direito a um desconto de 750 euros na compra de um automóvel novo com zero quilómetros e com um nível de emissão de CO2 que não ultrapasse 130 gramas por quilómetro.

Se a viatura em causa tiver mais de 15 anos, esse valor de desconto será de 1000 euros. Estas regras mantêm-se aliás para todos os automóveis adquiridos até ao final do dia de amanhã, desde que tenham a respectiva matrícula registada até dia 14 de Janeiro.

Hélder Pedro salienta também que as ajudas ao abate ajudaram o mercado a recuperar em 2010, regressando aos mesmos níveis de há dois anos.

Contas feitas, entre Janeiro e Novembro passado registaram-se vendas globais de 195.321 ligeiros de passageiros, muito acima do ano passado (mais 36 por cento), uma vez que 2009 "tinha sido o pior dos últimos 22 anos", salienta Hélder Pedro. Em contrapartida, nos primeiros 11 meses de 2008, tinham-se comercializado 192.225 veículos.

Antecipação de compras

As vendas do mercado automóvel em Dezembro são ainda uma incerteza, uma vez que os números deste mês só irão ser divulgados na próxima semana, mas a tradição deverá manter-se, com muitos consumidores a anteciparem-se à subida de impostos.

Em conjunto, a subida prevista para o Imposto sobre Veículos e também o aumento do IVA de 21 para 23 por cento deverão provocar um aumento médio de 2,2 por cento nos preços dos veículos em 2011, face aos que se registaram durante este ano, calcula a principal associação do sector.

Isto sem ter em conta, no entanto, as actualizações realizadas pelas próprias marcas automóveis. "É natural que os preços-base dos automóveis também aumentem", refere o mesmo responsável. Para já, exemplificando com o modelo que em 2010 tem sido o mais vendido em Portugal, o Renault Megane, este deverá ter uma subida de preço de 2,3 por cento, de acordo com os cálculos já realizados pela marca.

Feitas as contas com base na versão mais barata do Megane III, que custa 22.300 euros, deverá passar a ser vendida ao público por cerca de 22.813 euros.

"Ano negro" em 2011?

"Prevemos que o próximo ano irá ser de retorno a valores muito baixos, semelhantes aos níveis de 2009", lamenta o responsável da ACAP. Hélder Pedro destaca que os valores deverão ser especialmente baixos durante os três primeiros meses, entre Janeiro e Março, devido também ao aumento de compras agora no final de 2010.

As expectativas para o próximo ano são também pessimistas do lado das próprias marcas automóveis, pelo menos no que respeita às vendas a clientes particulares, confirma por seu turno o porta-voz da Renault Portugal, Ricardo Oliveira. "As perspectivas são de que o mercado volte a cair para os números de 2009, face à conjuntura que está prevista: as pessoas vão ter menos dinheiro e menos incentivos para comprarem carros novos, pelo que vai haver certamente uma retracção no domínio particular", salienta o responsável da marca francesa.

Já as compras de novos veículos realizadas pelas empresas podem fazer alguma diferença no mercado automóvel durante o próximo ano, indica também Ricardo Oliveira. Para as vendas da marca francesa em Portugal, por exemplo, este segmento representa cerca de metade, o que deverá andar próximo do peso no mercado em geral, calcula.

"Há ainda uma incerteza quanto ao comportamento das empresas, uma vez que pensamos que poderão sentir a crise menos no bolso do que os particulares, e a situação do mercado depende muito deste segmento", lembra o porta-voz da Renault. Feitas as contas, se as empresas mantiverem o nível de compras que fizeram durante o ano passado, isso, conclui, poderá ajudar de alguma forma o mercado.

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